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domingo, 26 de dezembro de 2010

PROJETOS

Em defesa do planeta

A humanidade acordou para a necessidade de preservar o meio ambiente e impedir a destruição da própria espécie. Conheça aqui histórias de escolas que já estão ajudando os alunos a mudar de atitude para se transformar em cidadãos mais conscientes


Nova-Escola

22/03/2010 17:14

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Débora Menezes

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Foto: Nunca os temas ambientais ocuparam tanto espaço na mídia e nas discussões em todos os lugares

Nunca os temas ambientais ocuparam tanto espaço na mídia e nas discussões em todos os lugares

Aquecimento global, degelo das calotas polares, reciclagem, calor e frio em excesso, água em falta. Nunca os temas ambientais ocuparam tanto espaço na mídia e nas discussões em todos os lugares - das universidades às ONGs, dos ambientes de trabalho às escolas. A palavra de ordem é diminuir os impactos negativos do ser humano sobre o mundo. Como? Mudando atitudes pessoais e coletivas para salvar o mundo da ameaça (cada vez mais real) de colapso.

A boa notícia é que já há muitos professores desenvolvendo essa mentalidade. Trabalhando com consistência e continuidade e usando conceitos de Educação Ambiental, eles estão ajudando suas turmas a formar uma cultura de defesa do planeta, envolvendo as comunidades nesse processo de reflexão, atraindo colegas de outras áreas em tarefas multidisciplinares e, assim, construindo novos jeitos de se relacionar com a realidade à sua volta.

Nesta reportagem, você vai conhecer cinco experiências (feitas nos estados de São Paulo, Bahia, Pará e Santa Catarina) que podem inspirar a realização de atividades para ajudar a melhorar a relação com a natureza. Todas elas têm em comum o fato de trilharem caminhos na direção do que a educadora ambiental Isabel Cristina de Moura Carvalho, da Universidade Luterana do Brasil, em Canoas, no Rio Grande do Sul, chama de formação do "sujeito ecológico" - nome usado para definir o que seria o modelo ideal de um ser humano “que tem e dissemina valores éticos, atitudes e comportamentos ecologicamente orientados”.

O primeiro passo para trabalhar bem a Educação Ambiental é criar, na escola, um ambiente capaz de envolver os professores de todas as disciplinas (e não só os de Ciências e Geografia, que normalmente "tomam posse" do tema) e também a comunidade. "Não dá para tratar só das questões de natureza. Qualquer trabalho deve incluir a relação com a cidade e seus moradores", diz Isabel Carvalho.

Na EM Malê Debalê, em Salvador, essa ligação surgiu porque a escola fica ao lado da lagoa do Abaeté. A equipe articulou diversos conteúdos e criou uma cultura de trabalhar a questão ambiental todos os dias, com as classes de Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental. As crianças se acostumaram a realizar tarefas de iniciação científica (como observação para entender fenômenos da natureza, em estudos do meio) e passaram a entender como se dão as interferências do ser humano na paisagem.

Já a professora Elielza Silva Prata, da EM Maria Flora Guimarães, em Benevides, no interior do Pará, deu mais ênfase à interação com a comunidade ao iniciar um longo projeto de Educação Ambiental. Para conscientizar os moradores sobre a importância de preservar a água (numa região ribeirinha), ela convidou pesquisadores e especialistas e abriu a sala de aula para a participação de todos num debate amplo sobre a realidade local.

"A experiência é muito rica porque se baseia nas necessidades cotidianas da população e as insere na ação pedagógica", afirma a bióloga Maria de Jesus da Conceição Ferreira Fonseca, coordenadora do Núcleo de Estudos em Educação Científica, Ambiental e Práticas Sociais da Universidade do Estado do Pará.
Para ler, clique nos itens abaixo:
Objetivos de longo prazo
Os especialistas são unânimes em afirmar que a Educação Ambiental deve ter objetivos de longo prazo. Promover uma festa pelo Dia da Água pode até ser interessante ou divertido para as crianças, mas é pouco. A comemoração, dizem esses professores, não pode ser o objetivo fim, mas um meio para compartilhar os conhecimentos. O mesmo vale para atividades simbólicas, como plantar árvores. Muito mais importante do que a ação em si é explorar com os alunos como o desmatamento afeta a vida em sua cidade, por exemplo. "Assim, eles vão perceber que o plantio das mudas é só uma pequena parte do que é preciso fazer para restaurar nossas matas", explica Sueli Furlan, professora da Universidade de São Paulo e selecionadora do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10. "E vão entender que esse é um trabalho para a vida toda, não se resume a iniciativas pontuais." Da mesma forma, de nada adianta montar uma horta e depois não mantê-la. Ou separar o lixo na escola e depois não ter como dar fim a ele. "Não é difícil perceber que mais importante do que sugerir um projeto de coleta seletiva localizado é pensar numa campanha para pressionar vereadores a organizar melhor todo o trabalho de coleta na cidade", exemplifica Sueli. Em Balneário Camboriú, no litoral de Santa Catarina, o trabalho contínuo de Educação Ambiental na rede municipal vem dando cada vez mais resultados. Desde 1999, a prefeitura investe na capacitação de professores e no desenvolvimento de projetos de médio e longo prazo. Graças à experiência dos anos anteriores, a EM Jardim Iate Clube consegue fazer da reciclagem uma realidade para toda a equipe de alunos e professores. O trabalho funciona bem, entre outras coisas, porque tem a efetiva participação de outras instituições da sociedade civil. Aliás, foram essas organizações que criaram o movimento ambientalista e acabaram por chamar a atenção de toda a sociedade para a importância de defender a natureza. Em muitos casos, foram justamente as ONGs que criaram atividades para usar em sala de aula. A pedagoga Patrícia Otero, especialista em meio ambiente e diretora do 5 Elementos, que atua no setor há dez anos, dá um exemplo de como inserir temas ambientais em classe. "Não basta trabalhar só as informações encontradas na mídia", diz. "É preciso descobrir meios de associar esse conhecimento à realidade local e entender como a comunidade lida com a questão da água. Ao aprofundar-se no tema, os jovens vão conseguir propor reflexões e ações positivas."
Ação integrada à comunidade
Entender a realidade e atuar para transformá-la. Foi exatamente isso que os estudantes da EMEF Teófilo Benedito Ottoni, em São Paulo, fizeram. A escola fica junto a uma área remanescente de mata Atlântica e, quatro anos atrás, associou-se a outros agentes da sociedade civil para lutar contra a derrubada das árvores para a construção de prédios. A mobilização levou os jovens a participar de protestos e escrever cartas para as autoridades. O resultado: o local acabou transformado num parque. "As escolas são espaços privilegiados de formação e a Educação Ambiental é a forma de interagir diretamente com a comunidade e operar mudanças na sociedade", diz a antropóloga Lucila Pinsard Vianna, coordenadora da Câmara Técnica de Educação Ambiental do Comitê de Bacias do Litoral Norte de São Paulo. Batalhar por melhorias na infra-estrutura do bairro, promover palestras e convocar as famílias, as associações de moradores e os representantes de sindicatos e outras associações para debater os problemas e as possíveis soluções são outras formas eficientes de envolver os alunos em atividades que certamente ficarão marcadas na vida deles. Na EE Professora Josepha de Sant'Anna Neves, em São Sebastião, no litoral paulista, a questão ecológica ganhou tanto espaço que a escola se tornou uma referência de qualidade na região. Tudo porque a equipe vem atuando há vários anos (e de forma coordenada) para promover reformas nas instalações e manter hortas e jardins sempre muito bem cuidados.
Você faz a diferença
Formar "sujeitos ecológicos" é isto: levar para a sala de aula temas da atualidade e tratá-los de forma transdisciplinar em projetos duradouros que mexam com a comunidade. Um levantamento feito pelo Ministério da Educação revela que, quando isso acontece, alunos e professores fortalecem seus relacionamentos e passam a cuidar do ambiente escolar e a se interessar pelo que acontece fora dele (mostram a parentes, vizinhos e amigos que todos fazemos parte do planeta). Além disso, as experiências relatadas aqui funcionaram bem porque em todas houve a participação essencial de um personagem: o professor. "Segundo nossa pesquisa, quando os docentes assumem seu papel de líderes, eles contagiam os colegas e esse idealismo seduz os alunos a participar dos projetos", resume Rachel Trajber, coordenadora de Educação Ambiental do MEC.
Contextualizar os conteúdos
Por que o trabalho funciona: - O meio ambiente é tratado de forma transversal ao currículo. - O tema é explorado ao mesmo tempo que a cultura afro-brasileira, importante na realidade local. - A paisagem urbana é considerada objeto de estudo para que a turma entenda a relação entre a natureza e os impactos causados pelo homem. Aberta no ano passado, a EM Malê Debalê fica próxima à lagoa do Abaeté, em Salvador. E o local, cartão-postal da cidade e um rico elemento da paisagem para os moradores do bairro, serviu de palco para atividades de Educação Ambiental com crianças de Educação Infantil, 1a e 2a séries. Com um elemento extra, de grande atrativo para as crianças: a inclusão do tema diversidade racial (no caso, os orixás da cultura afro-baiana e sua relação com a natureza) como fonte de pesquisa. A cada 15 dias, as turmas visitavam a lagoa para fazer observações: plantas, animais e elementos estranhos à paisagem (principalmente o lixo). Muitos foram conhecer um aterro para entender o caminho dos detritos. Em classe, as tarefas incluíram redações. "Qual é o ar que quero respirar?" e "como é a água que eu quero beber?" eram dois dos temas. E as famílias foram chamadas a descrever o lugar no passado e sua transformação no que é hoje. Os orixás entraram no trabalho para mostrar a religiosidade como parte importante de qualquer cultura, conforme explica a professora Isiane Silva. "A ligação do candomblé com a natureza é grande. Por isso, usamos o projeto para ensinar as crianças a respeitar as manifestações religiosas e a paisagem." Para tanto, eram feitas associações: se a água é o elemento de um determinado orixá, o que é preciso fazer (pelas águas) para deixá-lo satisfeito. "Essa relação entre o candomblé e a natureza ajudou a formar, nos alunos, novas representações sobre o meio ambiente", avaliza a especialista Sueli Furlan, de São Paulo. "No fim, todos passaram a valorizar a lagoa e a riqueza que ela representa para o bairro e entenderam por que é preciso cuidar dela", diz Isiane. E a Malê Debalê assumiu uma nova missão: reunir outras escolas do bairro para discutir ações capazes de garantir a proteção do lugar.
A realidade local em foco
Por que o trabalho funciona: - Um tema ligado à realidade local é o ponto de partida. - Especialistas partilham conhecimentos com professores, alunos e membros da comunidade. - As discussões nascidas na escola geram mudanças de atitude em relação ao meio ambiente. - Os jovens realizam experiências de iniciação científica, com observação, coleta de água e discussões. Cercada de palmeiras de açaí, a EM Maria Flora Guimarães é uma escola rural e multisseriada a 45 minutos de lancha de Benevides, no interior do Pará. Nessa região de floresta, muitos ribeirinhos não entendem por que é preciso ferver a água antes de bebê-la para matar as impurezas e cuidar da natureza (acham que o "rio nunca vai secar", por exemplo). Para conscientizar os alunos e a comunidade, a professora Elielza Silva Prata criou o projeto Água, um Bem Finito. Como não conhecia muito o assunto, ela convidou especialistas para falar aos moradores sobre erosão, assoreamento, poluição etc. Os estudantes, numa espécie de iniciação científica, colheram amostras de água em diversos pontos do igarapé próximo à escola durante seis meses. Eles avaliaram diferenças de coloração e a quantidade de sujeira e associaram essas informações aos pontos da coleta (onde há trânsito de barcos, por exemplo, sobra óleo diesel). Na sala de aula, ficou fácil entender por que nem toda água é própria para o consumo. "O trabalho ajuda a população a tomar mais cuidado com o igarapé", festeja a professora, que montou um herbário a pedido das crianças. As famílias contribuem com informações sobre as plantas - e a herança cultural se manterá viva graças aos alunos de Elielza.
O apoio da sociedade civil
As ONGs têm um papel importante no debate ambiental, dentro e fora das escolas, fortalecendo principalmente a Educação não formal por meio de campanhas na mídia e da criação de materiais paradidáticos e atividades para alunos de todas as séries. O Instituto Mamirauá (com sede em Tefé, na região do Alto Rio Negro, no Amazonas) já está no quarto curso de Educação Ambiental voltado para professores da rede pública (cerca de 60 escolas são atendidas, num local onde há poucas opções de formação para os docentes). A ONG também discute com o Estado a formação de uma política pública para o tema. Em São Paulo, o Instituto Verdescola auxilia no planejamento de cinco instituições públicas de ensino e uma particular. Além de capacitação para professores, funcionários e pais, a ONG acompanha essas escolas durante o ano inteiro, participando da construção de projetos. Biólogos e pedagogos também dão aulas temáticas dentro da própria grade curricular.
Os jovens como protagonista

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